A observação de aulas e o Princípio da Incerteza de Heisenberg

Entre professores e investigadores existe, segundo Allwright (1988), uma “crença no observável”. Acredita-se que, através da análise do observável, se pode descobrir o pensamento através da palavra e da acção. Neste sentido, a observação de aulas constitui-se como estratégia de investigação e de formação de professores.

Vieira (1993), fala do significado de observar uma aula, referindo o “quanto é ilusório pensar-se que aquilo que vemos é o que acontece” (Vieira, 1993, p.38).

Ao confrontarmos as percepções de um observador com as percepções de outro observador, damo-nos conta de que observar é interpretar e sendo um acto interpretativo, a observação reflecte a subjectividade do sujeito que observa (Vieira, 1993). Por outro lado, o observador pode, por vezes, interferir com a realidade que observa, como acontece na Física.

A Mecânica Quântica descreve o comportamento do electrão, recorrendo ao conceito de probabilidade, não sendo possível conhecer, simultaneamente, e com exactidão, a sua posição e a quantidade de movimento – “Princípio da Incerteza de Heisenberg”.
Se pretendermos saber por onde andou o electrão, teremos de fazer incidir sobre ele radiação apropriada. Ao ser “iluminado” o electrão ficará intimidado e já não se comportaria como se não estivesse a ser visto (Fiolhais, 2007).

“Se não olharmos, o electrão está à vontade e faz o que muito bem lhe apetece. Mas, se não olharmos, não poderemos saber o que ele fez. De certo modo a observação altera o comportamento do objecto observado… Esta alteração não pode ser eliminada melhorando o instrumento de observação, pois é da própria natureza das coisas.” (Fiolhais, 2007, p.24).

De forma semelhante, na observação de aulas, o observador poderá influenciar o comportamento do professor observado, que se poderá comportar de forma diferente da habitual, sobretudo se a observação de aulas for uma prática pontual e descontextualiza, como a que está agora a surgir no âmbito da avaliação de desempenho do pessoal docente.

Contudo, se não observarmos, não poderemos ter acesso às práticas do professor. Uma falta de cultura de partilha de experiências e de boas práticas, uma falta de abertura das nossas salas de aula a outros olhares que não só os dos nossos alunos, pode levar a que o professor observado se sinta um pouco como o electrão.

Referências bibliográficas:
Allwright (1988). Observation in the language Classroom. Londres: Longman.
Fiolhais,C. (2007). Nova Física Divertida. Portugal: Gradiva - Publicações, Lda.
Vieira, F. (1993). Supervisão – Uma Prática Reflexiva de Formação de Professores. Rio Tinto: Edições Asa.

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